O famoso herói mascarado existiu em carne e osso, e diferente da ficção, não era mexicano, sim irlandês, não tinha traços latinos, mas pele muito clara, barba e cabelos ruivos. Seu nome de batismo era William Lamport, seu pseudônimo, Guillén Lombardo. Nasceu em 1615, na cidade portuária de Wexford, sudoeste da Irlanda. Morreu em 1659 aos 44 anos, na Cidade do México, então capital da Nova Espanha, condenado pela Inquisição.
Desde o século XVI, a Irlanda vivia em pé de guerra com a Inglaterra, que queira converter os católicos daquela ilha ao protestantismo. O cerco à cidade irlandesa de Kinsale, ocorrido durante o reinado de Elizabeth I, foi um marco da batalha religiosa Era o ano de 1601 e os rebeldes receberam ajuda da Espanha para resistência, o rei Felipe III mandou 6 mil homens, armas e munição. Na esperança de desviar a atenção e as forças da Grã Bretanha para fora da Holanda sob domínio espanhol.
Parte da munição não chegou ao destino, prejudicando os combates, sitiada pelos ingleses a cidade se rendeu em 1603. Mas o ódio permaneceu. Muitas famílias como os Lamport, donos de muitas terras e católicos fervorosos, estiveram lá, em Kinsale, lutando ao lado dos espanhóis. William, o mais novo Lamport, já nasceu sob o jugo inglês, 12 naos após a rendição dos irlandeses cristãos. Depois de alfabetizado, deixou Wexford rumo à capital Dublin para estudar. Aprendeu latim e retórica com os jesuítas.
Aos 12 anos, desembarcou em Londres, para completar sua educação, estudando grego e matemática. Um ano depois foi condenado à prisão por traição à Coroa britânica, tinha escrito um panfleto, em latim, rebelando-se contra os mandos do governo inglês sobre a Irlanda. Fugiu misteriosamente e foi capturado por piratas. Passou a viver na pirataria durante dois anos, atacando principalmente navios ingleses. Envolveu-se em sua primeira guerra em 1629, com 14 anos. Lutou ao lado dos franceses combatendo os huguenotes- religiosos reformistas protestantes- que dominavam La Rochele, um dos principais portos da Europa.
A cidade resistiu por 14 meses. Terminada a guerra William alistou-se nas brigadas da Irlanda e mudou de lado: desta vez lutando contra a França, pela Espanha. Depois do conflito, resolveu estudar filosofia em Santiago de compostela, logo após migrando para o monastério El Escorial, onde mergulhou na teologia. Em 1640 aos 25 anos, depois de percorrer todo continente europeu, aprender 14 idiomas, encarar várias guerras, William resolveu voltar para a Espanha e fincar suas raízes. Mudou o nome para Guillén Lombardo, ganhou uma bolsa para o Colégio Imperial de Madri. Já era conhecido por suas bravatas e caiu nas graças de Gaspar de Guzmán Pimentel, o conde-duque de Olivares, um dos homens mais importantes de toda a Espanha, braço direito do rei. Lombardo, já dominava a espada com a facilidade que dominava corações.
A mais famosa na época foi Ana de Leiva, nobre da corte. A família da nobre não aceitou o romance e exigiu a puniçãodo forasteiro, mas o conde-duque livrou o pescoço do amigo e o empregou como espião na América. Ia trabalhar entre as tribos indígenas as quais ainda dominavam o novo mundo. Disfarçado como professor de latim, namorava Antonia Turcio e ao mesmo tempo freqüentador dos proibidos rituais de feitiçaria dos índios, virando assim um aprediz de bruxo. E ainda arrumava tempo para visitar as camas das damas da Nova Espanha. Acabou se envolvendo a fundo com os índios e a defender seus ideais, como reforma agrária e o fim da escravidão, mal vistos pela coroa espanhola.
Tornou-se líder de um embrionário movimento pela dependência do México. Dois anos depois foi condenado pela Inquisição. Em 1643, aos 27 anos foi preso sob as acusções de traição à Coroa espanhola , de planejar um levante popular, de envolver-se com bruxaria e de heresia. Depois de oito anos na cadeia, na noite de natal de 1650, elaborou uma fuga fantástica. Com 35 anos, virou então El Zorro - a raposa – o cavaleiro que a noite, vagava pelas cidades fazendo justiça com as próprias mãos. Zorro zombava dos soldados e distribuía folhetos pregando contra a Inquisição. Mas Lombardo tinha um ponto fraco: as mulheres. Em 1652, ele foi surpreendido na cama da mulher do vice-rei, don López Díaz de Armendáriz. Foi preso novamente pela Iquisição, e seria queimado.
A exercusão marcada em 10 de novembro de 1659, sete anos depois da prisão, o dia chuvoso, na Plaza Mayor, Cidade do México. A fogueira já estava acesa, mas El zorro não podia ter um fim tão banal, agarrouas cordas que o penduravam sobre a fogueira e se enforcou. Mais uma vez El zorro zombou de seus inimigos. Virou mito. E entrou para a história do México como precursor da batalha pela independência .
Por Carlos Biguetti
Resumido por:Bruna Miranda
